Apertem os cintos, meu namorado sumiu
Mary vai ao hospital com Kevin, seu namorado, para que ele passe por uma cirurgia. De uma hora para a outra, no entanto, Kevin some. Agora Mary precisa correr para encontrá-lo e provar que não está louca.
Busca Alucinante é um filme de suspense que tem 1h20min de duração. A partir da premissa, durante 50 minutos, o espectador é convidado a se perguntar se a Mary é louca ou não. Embora ela jure de pés juntos que foi até o hospital com o Kevin, não há nenhuma evidência física de que ela diz a verdade.
Mais que isso: não há nada que indique que Kevin tenha estado no hospital, pois ninguém sabe, ninguém viu. É natural suspeitar que exista alguma tramoia orquestrada pela turma do hospital, mas em momento algum eles parecem negligentes e tudo no filme indica que são sinceros. Mary é louca? Houve algum acidente espaço/temporal? Afinal, o que aconteceu com Kevin?
Esse não-saber é reforçado por uma esperta câmera “encosto” que acompanha a protagonista e evoca uma sensação de sufocamento, de pânico. Tais elementos tornam Busca Alucinante uma ótima experiência cinematográfica. Daquelas de se ajeitar na cadeira para aproveitar mais o filme.
Quando uma obra me deixa empolgado desse jeito, eu passo pano para pontos negativos como: uma câmera que fica tremendo sem que haja um motivo claro, a constrangedora melação da Mary com o Kevin (fala sério, ela beija o telefone), uma atitude burra de um vilão e a pouca utilidade de um personagem para a trama. Os dois últimos erros citados ocorrem quando o filme já começou a explicar seu enredo, e é aí que ele fica ruim (ou pelo menos não tão bom).
Contrariar a tendência da trama e não revelar que a Mary é louca surpreende, mas frustra. Eu esperava uma virada de explodir a cabeça, com todas as peças se encaixando, mas Busca Alucinante entrega uma vilania que não dá para engolir de forma alguma. O que vemos no produto final não é a linda magia do cinema agindo, mas uma ideia que não foi bem desenvolvida antes de ser executada.
O fato de o Kevin estar na conspiração foi um gigantesco acerto, mas o lado do vilão é muito forçado. Entendo a intenção de arrancar dinheiro da Mary, mas não é possível conceber que quatro pessoas se empenhariam numa engenhoca tão complexa e obviamente falível, uma vez que seria praticada dentro de um hospital grande.
Apenas ter um segurança não justifica o bom desenrolar do plano. Afinal, como foi que eles apagaram qualquer registro da estadia do Kevin? Se a Amanda não era enfermeira e o Kevin não era paciente, toda a cena no quarto é fruto da incompetência do hospital? É difícil aceitar algo assim.
Quando uma revelação, ao invés de esclarecer, levanta mais dúvidas, ela piora muito a obra. O pior é que esse problema do plano mirabolante poderia ser facilmente resolvido se o argumento do filme fosse analisado à luz da linha da suspensão de descrença. Busca Alucinante forçou a barra e jogou fora 50 minutos de qualidade.
Eu apontei como erro uma atitude burra de um vilão. No final, há uma perseguição e um bandido fica de frente para a Mary. Ambos de arma em punho, ao invés de ele só atirar (para neutralizá-la), quis ajeitar a mão, como se a mira naquele momento fosse o mais importante. Quando ele fez isso, a protagonista atirou e o liquidou.
O personagem de pouca utilidade é o detetive. Ele seria crucial se o plot twist envolvesse loucura, pois ele seria alguém de confiança da Mary e não deixaria dúvida quanto à sua condição mental. Até por isso me empolguei, por ir passando para o lado do hospital, conforme o filme avançava.
Como a virada envolve uma trama criminosa e a Mary tinha totais condições de alvejar o Kevin, como fez com o outro vilão, a presença do detetive no filme, ou pelo menos nesse terceiro ato, não se justifica.
Busca Alucinante é um filme de suspense que consegue ser bom por 50 minutos, mas aí suas explicações o estragam.
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