Ficha técnica no IMDb
Nova Inglaterra, 1630. William e Katherine levam uma vida cristã com suas cinco crianças, morando à beira de um deserto intransitável. Quando o filho recém-nascido deles desaparece e a colheita falha, a família se transforma em outra. Por trás de seus piores medos, um mal sobrenatural se esconde no bosque ao lado.
Assisti A Bruxa pensando que se tratava de outro filme. Por esperar um plot twist, supus que o final seria incoerente. Essa expectativa me deixou um pouco angustiado durante a maior parte do filme. Quando o final veio e percebi que não haveria aquela reviravolta, fiquei aliviado. É o tipo de circunstância que faz um filme regular parecer bom.
A Bruxa é um filme regular porque não faz nada de extraordinário. Não é um primor em nenhum sentido e não é uma grande experiência. Ele está mais para nota 5 do que para nota 7, pois consiste, basicamente, em um grande “nada acontece”.
Há um enredo progressivo e os personagens se desenvolvem, mas o andamento é linear e não há um conflito. É como se o Bruce Lee fizesse um filme em que ele vai batendo em um boneco de madeira até quebrá-lo.
A quebra é um processo gradual bem feito e não representa um problema narrativo ou temático, mas é apenas um boneco e isso torna o filme sem graça. A Bruxa é a história de como o Diabo destruiu uma família praticamente sem encontrar resistência.
Filmes como Premonição contêm finais trágicos em que os heróis perdem, mas a existência de uma forma de enfrentar o vilão dá o tempero que o filme precisa para não ficar sem graça. Pode ser apenas uma crença, uma possibilidade ínfima, mas tem que haver algo.
Não estou dizendo que A Bruxa é ruim, mas sim que a minha experiência não foi legal o suficiente para que eu recomende o filme ou torne a assisti-lo futuramente. Tirando essa parte da experiência, A Bruxa é interessante.
O enredo vai mexendo com os personagens de modo que suas atitudes sejam coerentes. A Thomasin estava irritada com a chatice dos gêmeos e fez o discurso de bruxa para assustá-los. Esta travessura é a base para que suspeitem dela.
O William e a Katherine estavam abalados pelo que estava acontecendo e buscavam uma explicação. Por mais que seja absurdo suspeitar da filha, ela foi com o Caleb para a floresta escondida deles.
Essa é talvez a única forçada de barra do filme. Não havia motivo razoável para o Caleb e a Thomasin se enfiarem na floresta escondidos. Posso dar um desconto por eles serem crianças, mas ainda é uma escolha muito estranha.
Outra ação que o filme embasou foi a bruxa seduzir o Caleb. Podemos creditar a aproximação a um processo hipnótico, mas ressaltaram duas vezes o olhar dele para os seios da irmã e os seios claros da bruxa se destacavam na escuridão. Suponho que não seja coincidência.
A incapacidade diante da investida maligna justifica o desfecho da Katherine e o da Thomasin. Esta última pode ser mais difícil de engolir, mas é importante lembrar que ela perdeu tudo o que era relevante para ela.
A revelação sobre o bode não me surpreendeu porque percebi um viés de adoração na canção dos gêmeos. Até a ideia do pacto não achei desconexa, mas a caminhada despida ao grupo flutuante foi meio ridícula.
Não ter maiores explicações sobre a bruxa coroa aquela falta de graça que eu mencionei antes.
O filme tem alguns diálogos interessantes sobre a possibilidade de um não-batizado ser salvo. Ele é razoavelmente bem executado em quase todas as áreas.
Existem dois problemas técnicos principais: a escuridão que atrapalha momentos assustadores e a trilha sonora exagerada que possui o mesmo efeito. Há momentos importantes que deviam ser chocantes e eu não consigo aproveitar devidamente por não enxergar direito e mal entender a cena.
A trilha sonora ainda tem o agravante de usar um som de batida que parece indicar uma ação no filme, mas é apenas parte da trilha sonora. Tenho a impressão de que já reclamei disso em outro filme.
O sumiço do bebê é um bom exemplo de como A Bruxa compõe bem suas cenas. Tirando o problema da trilha sonora, o emprego do silêncio e do suspense torna o filme bem competente, numa análise isolada.
Se não fosse o gostinho de tanto faz deixado pelo todo, eu diria que A Bruxa é um bom filme. O chato de filmes regulares é que eles são menos marcantes que filmes ruins. Semana que vem eu não me lembrarei de A Bruxa, mas ainda terei vívidas lembranças de O Chamado 3 e It: A Coisa.
Observação: um mérito do roteiro é fazer eu me importar com componentes individuais da família, não apenas a protagonista.
Observação 2: dizem por aí que esse filme é sobre fanatismo religioso, mas não posso concordar com isso, pois literalmente há possessões demoníacas que dilaceram a família.