Ficha técnica no IMDb
Em busca de um estudante desaparecido, dois investigadores invadem sua casa e encontram uma coleção de fitas VHS. Vendo o conteúdo horrível, eles percebem que pode haver motivos obscuros por trás do desaparecimento do estudante.
Amazon Prime Vídeo ataca novamente
Assisti a V/H/S no Prime Vídeo e seu título era “As Crônicas do Medo”. Não é incomum os títulos estarem errados no Prime Vídeo, então quando vi o título “As Crônicas do Medo 2” supus que fosse V/H/S 2. Depois de algum tempo, suspeitei que o filme fosse outro e verifiquei.
O que o Prime Vídeo colocou como continuação de V/H/S é uma antologia chamada “Fitas Macabras”. Se eu não conhecesse V/H/S 2, teria feito como naquela vez em que escrevi sobre O Massacre achando que fosse Massacre no Texas.
Introdução
A primeira cena do filme é um detetive flagrando um marido e sua amante. É incrível como V/H/S gosta de mostrar pessoas peladas. O trabalho do detetive justifica parcialmente a câmera de mão, mas não a que fica no para-brisa do carro.
Como ele é um pilantra, chantageia o marido para receber dinheiro dele e seguir trabalhando para a esposa sem dizer que já flagrou a traição. Achei interessante.
A história-macro consiste em: o detetive e sua mulher vão investigar o caso de um adolescente desaparecido e averiguam sua casa. É uma boa justificativa para que as fitas sejam tocadas, afinal, faz parte do processo de deduzir o que pode ter acontecido com o rapaz.
Conforme a mulher explora o computador, ela passa pelo vídeo em que o grupo do filme anterior filma os seios de uma mulher à força, o que indica um universo compartilhado V/H/S, e por uma imagem dela mesma diante da máquina. É inacreditável. Ela é tão tapada que não percebeu que estava sendo filmada?
O olho biônico
Um homem caolho recebe uma prótese ocular que colateralmente enxerga fantasmas. O mecanismo das próteses que reduzem a distância entre os fantasmas e os vivos é bem interessante, mas o uso de jumpscares joga contra o terror.
O receio de os fantasmas interagirem com o protagonista é útil, mas não o suficiente para o terror do conto ser bom. O desfecho é mais engraçado do que assustador. Seria melhor nem ter mostrado aquilo.
O olho da KGB é uma boa justificativa para a gravação.
É comum eu criticar nudez gratuita em filmes, mas este conto tem uma das cenas mais estúpidas que já vi. A mulher que ouve fantasmas está junto com o protagonista. Eles sentem a presença de um fantasma e a saída dela para resolver o problema do visitante indesejado é fazer sexo.
Zumbis em primeira pessoa
Eu não gosto de zumbis, mas este conto é uma obra-prima. O do olho é indigno de estar na mesma antologia que este. Ele possui uma sacada superinteressante: mostrar um apocalipse zumbi em primeira pessoa. Só não o considero perfeito porque ele não foi o tempo todo em primeira pessoa.
A cada nova vítima eu ficava com medo e triste. A cena em que ele devora o ciclista é nojenta e a sequência da festa é um horror (o horror que devia ser). É um trecho pesado e desesperador. A mera execução eficiente do terror não é o bastante para criar uma obra-prima. Toques especiais são necessários.
Quando o protagonista se morde e cospe, o conto nos informa de que zumbis tem gosto ruim para zumbis. Essa é uma informação mitológica essencial para entender o motivo de os zumbis atacarem apenas os humanos. Não precisamos saber disso para aproveitar a trama, mas saber a torna melhor.
O desfecho do conto é sua parte mais brilhante. Quando o protagonista se viu no reflexo do carro, ficou contemplativo. O espectador não tem consciência do que ele está pensando ou se ele está pensando. A dúvida amplia a qualidade da experiência.
Quando ele pega a arma de fogo, eu entendo que, devido à ligação da esposa, ele recobrou a sanidade a ponto de perceber que havia se tornado um monstro. É muito triste, profundo e inesperado. Talvez seja o melhor segmento de antologia que já assisti.
O que mais depõe a favor dele é que antologias costumam apostar mais em momentos e ideias interessantes do que em tramas completas e este vai mais longe. Não é apenas uma experiência válida ou satisfatória, é verdadeiramente boa.
A seita
Um grupo de documentaristas investiga uma organização religiosa. Essa premissa até funciona como justificativa para a gravação o tempo todo, tirando o momento em que uma das religiosas filma a situação, mas há uma cena ridícula em que a mulher conta ao amante que está grávida dele, sendo que ambos estão com uma câmera espiã na camisa. O noivo dela está vendo a transmissão e descobre a traição. É ridículo e preguiçoso.
O terror psicológico (prático, a partir de certo momento) advém da ideia de uma religião que ordena que seus adeptos se suicidem. É um terror bem funcional e imagino que tenha sido inspirado em um caso real.
Além da questão do suicídio, existe o desconforto causado pelo momento em que o líder diz que as mulheres e as crianças são levadas a ele para serem purificadas. É como o terror cultural do bom O Homem de Palha e do ruim Midsommar.
O conto ia bem, apesar de não ser primoroso, mas o diretor decidiu criar uma salada de situações que fugiu da proposta inicial. O suicídio coletivo começa, o líder explode, um monstro bizarro sai da barriga da mulher e persegue o pai, aparecem uns zumbis e vemos um casal aleatório fazendo sexo.
A guinada do charlatanismo para o nascimento de um monstro foi decepcionante. A ideia do filho monstruoso é clichê e me lembrou um pouco de O Monstro Dentro de Você, mas o pior é deixar de lado a pegada psicológica que estava sendo eficiente.
O uso do monstro ainda estava mais ou menos no âmbito inicial, mas o surgimento dos zumbis foi enfiar o pé na jaca. A cena final é um demorado enquadramento da meleca saindo do nariz do pai do monstro. Não dá para achar este conto bom sem considerá-lo uma piada.
Imagino o seguinte diálogo entre o diretor do conto e o mandachuva de V/H/S 2:
Diretor – E aí, chefe. Curtiu o meu curta?
Mandachuva – Bem legal a meleca de nariz, mas falta sexo.
Diretor – Não tem como encaixar.
Mandachuva – Se não encaixar, não entra no filme.
Mesmo considerando que o propósito do conto era ser caótico, a péssima cena do papo sobre a traição é inútil. A gravidez seria facilmente justificada pelo fato de ela ter um relacionamento e a cena da meleca aconteceria com o noivo.
Alienígenas
Um conto com luzes piscantes que tornam tudo confuso e ruídos na imagem e no áudio, embora insuficientes para prejudicar a experiência.
A primeira parte do conto é uma comédia picante adolescente desinteressante e a segunda é um corre-corre. O enfrentamento dos alienígenas é assustador e desesperador, pois em momento algum os personagens conseguem combatê-los.
A aparência dos alienígenas é boa, com destaque para a aparição aquática de um durante a parte comédia do conto. O jogo de luzes ajuda a ambientação e o desfecho trágico chancela a eficiência do terror da trama. Pobre cãozinho.
O mecanismo dos alienígenas é autossuficiente, compensando a falta de tempero do grupo de jovens.
O uso da câmera é questionável até a vingança do casal contra o garoto. Foi uma saída inteligente.
No geral, é uma história regular com um cachorro sofrendo muito na cena final.
Curioso que na transição para a história-macro aparece uma imagem de seios (imagino que os da cena inicial). Não sei vocês, mas eu me incomodo com essa mania do gênero terror.
A história-macro
A sacada de a gravação do desaparecido ser como uma transmissão ao vivo é muito boa, mas não há uma lógica que embase a mudança da mulher ou do rapaz. Os contos não sugerem que o fato de ser uma gravação gera alguma propriedade sobrenatural.
Essa falta de base torna o desfecho interessante o suficiente para não ser irrelevante, mas não constitui uma história válida, diferente de O Mal Está Ao Seu Lado.
O fechamento do filme mostra novamente aquela imagem de seios. Impressionante.
V/H/S 2 é uma antologia fraca que não contém o charme da criatividade e executa com primor apenas um de seus quatro contos. Reduz os problemas de V/H/S, mas está longe de ser uma boa experiência (ainda há interferência no áudio e no vídeo, câmera tremida ruim e nudez gratuita de motivação duvidosa).