Desafio Sobre Patins é uma aventura em volume único. Ela conta a história de quando a Mônica desafiou uma dupla tetracampeã mundial de patins para um duelo. A ideia temática aqui é, basicamente, criticar a arrogância da dupla e fazer a Mônica perceber que não pode arrastar os amigos para problemas.
O início do vol. 25, com os protagonistas sendo furtados, é empolgante por ser inusitado. Nele se destacam dois detalhes. O Cebola levou a Mônica ao cinema, o que é um grande avanço amoroso, considerando que eles nunca agiram formalmente como casal.
Além disso, a dupla patinadora ter roubado a rampa do Cascão rende boas piadas com ele exigindo a devolução dela. É engraçado até por ser absurdo imaginar que alguém passou correndo e pegou a rampa.
É tudo meio raso. Os patinadores são famosos, queridos e por isso se acham no direito de serem babacas, algo que não é lógico. Ser arrogante tudo bem, mas roubar pessoas na rua não é consequência natural dessa condição deles. Pior ainda é a forçação de barra com eles sendo parentes da Carmem. É como se a única característica da Carmem fosse ser nojenta.
Esse ego inflado da dupla Felipe e Luísa estimula a Mônica a dar uma lição neles. A tentativa dela, que é a base do enredo do vol. 25, é um desafio de patins, dupla vs dupla. Me lembrando da sensação de ler Surge Uma Estrela e Caderno do Riso, a Mônica foi babaca com os amigos e os enfiou nessa disputa contra patinadores profissionais, sendo que ela mesma sequer sabe andar de patins.
Todo mês um motivo novo para detestar a Mônica.
Na parte do treino, há uma piada especialmente boa. Depois de a Magali fazer alguns movimentos no patins, ela explica como fazê-los. A explicação ocupa um balão de fala anormalmente longo que aumenta a sensação de confusão, o que gera a graça no momento em que ela pergunta se os demais entenderam e eles respondem que sim.
A sequência seguinte é o treino da Mônica e do Cebola com a Magali e o Cascão. Os conceitos de não ter medo de cair e a repetição são básicos, mas há uma curiosidade e uma ótima cena.
Quando a Mônica vai se jogar no Cebola, ele se distrai cumprimentando a Marina e a deixa cair no chão. Levando em conta que, no volume 24, ele disse que a Marina só presta atenção nele quando ele não quer, podemos concluir que o Cebola tem uma queda por ela.
Novamente remetendo a Caderno do Riso, depois de a Mônica colocar em cheque a parceria do Cebola, ele a esculacha por ter essa postura sendo que ela enfiou todos na enrascada sem ter nenhuma habilidade para lidar com o desafio.
Gosto muito quando o Cebola diz verdades para a dentucinha. Neste caso, ela concorda que agiu errado, o que demonstra amadurecimento da personagem. Em se tratando de Turma da Mônica, é um grande avanço.
Para lidar com a falta de talento dos colegas, Cascão e Magali pediram ao Franja um patins tecnológico capaz de reproduzir movimentos profissionais. Tem tudo a ver com o Franja e realmente ajudaria os heróis a se acostumarem com os movimentos.
Um ponto negativo é que não faz nenhum sentido o Cebola achar que as manobras foram fruto da energia interna dele. Ele é o esperto o bastante para entender o efeito dos patins e não é burro para concluir algo tão absurdo. Digo isso mesmo achando legais as referências ao Seiya e ao Super Saiyajin.
No decorrer do treino, o Franja baixa vídeos diferentes e o Cebola e a Mônica imitam um tufão, babuínos, Michael Jackson e lutadores de artes marciais. É um pouco forçado, mas engraçado.
Destaque para o nome do filme que o Franja estava baixando: “Operação Grande Dragão Roxo”. Deve ser uma referência ao Operação Dragão (maior filme do lendário Bruce Lee) e a O Grande Dragão Branco (de Van Damme). Turma da Mônica Jovem costuma mandar bem nas referências.
Depois de a Mônica se lamentar pela diferença de qualidade entre ela e a dupla tetracampeã mundial, o Cebola diz que tem um plano. Este deve ser o maior erro de Desafio Sobre Patins: o quarteto se foca em treinar a Mônica e o Cebola sendo que o desafio era dupla vs dupla.
Desde o começo eu percebi que eles podiam simplesmente mandar a Magali e o Cascão para a disputa. Além de não pensar nisso, o roteiro faz parecer que a escolha da dupla é uma reviravolta ou um grande plano.
A cereja estragada do bolo de lama é o duelo em si. A primeira etapa é boa, apenas cumprir um circuito, mas a segunda envolve o uso de manobras originais. Enquanto a dupla desafiada é tecnicamente perfeita, a dupla desafiadora repete as macacadas do treino com os patins do Franja.
Por que a Magali e o Cascão pensaram que ficar pulando feito macaco e girando como um tufão daria a eles chances de vencer? É ridículo e tosco. É básico no conceito geral de estrutura narrativa usar no clímax elementos que já haviam sido mencionados, mas isso não torna o uso bom.
Em uma grande demonstração do quão baixo consegue ir, o roteiro de Petra Leão fez o Ângelo declarar Cascão e Magali vencedores da segunda etapa por terem divertido o público. Se pelo menos tivesse sido estabelecida a votação popular, mas nem isso houve.
E não para por aí. O gênio que planejou o desafio criou apenas duas etapas, o que permitiu um empate. Em vez de fazerem um desempate, ambas as duplas receberam a recompensa. Se fosse dividir um troféu eu até aceitaria, mas a possibilidade de dar uma ordem para a outra dupla deveria obrigar o juiz a escolher um único vencedor.
Os heróis pedem que os patinadores parem de ser desagradáveis e os patinadores pedem que os heróis treinem para competir com eles num torneio de verdade. É água com açúcar, mas não tinha para onde correr. É uma resolução mediana.
O volume 25 termina com uma piada horrível da Mônica e o Cebola superestimando a própria capacidade e recebendo um pequeno sermão sobre precisarem treinar. É bobo, ilógico e fecha mal uma história ruim.
O humor
Exemplos de boas piadas: a Mônica pega um livro sobre patins enquanto a Magali não está olhando; a página começa com o Cebola fazendo cara de mau e depois descobrimos que o Cascão está puxando ele com uma cordinha. Uma piada exagerada é aquela em que a Mônica e o Cebola vestem armaduras completas achando que aquilo seria proteção esportiva.
No geral, o vol. 25 é engraçado. Ele faz aquelas piadas metalinguísticas que são marca registrada de Turma da Mônica, usa bem os pequenos elementos e tem uma taxa de funcionamento positiva. Apesar disso, há algumas piadas sem graça e outras forçadas. “P.A Teens” é um caso de insucesso humorístico.
Considerações finais
Desafio Sobre Patins é uma história bem básica com uma mensagem mal desenvolvida, um enredo capenga, um clímax horrível e um humor razoável. Deve ser o pior volume de até então, ganhando apenas de No País das Maravilhas (vols. 21 e 22).